29 de julho de 2016
O vírus zika: bióloga brasileira pede novas estratégias para combater mosquito comum
A investigadora brasileira Constância Ayres pediu hoje,29, na cidade da Praia, novas estratégias para combater o mosquito comum (Culex), que, a par do Aedes aegypti, poderá ser transmissor do vírus zika.
"Hoje o controlo do zika é voltado exclusivamente para o Aedes aegypti e, como são espécies de mosquitos diferentes, as estratégias de controlo são diferentes. E para o Culex, não temos nenhuma estratégia no país voltada para essa espécie. Se conseguirmos provar que ele exibe um papel importante na transmissão, novas estratégias vão ter que ser criadas para direcionar também para esse mosquito", afirmou Constância Ayres.
A bióloga faz parte de um grupo de investigadores da Fundação Oswaldo Cruz (FOC), um laboratório público brasileiro, que em março último anunciou a descoberta do vírus Zika nas glândulas salivares de um mosquito comum (Culex), e que indica que este também pode ser transmissor.
A investigadora, que falava à agência Lusa no âmbito de um 'atelier' realizado na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde sobre estudos, experiências e a situação atual das doenças transmitidas por vetores em Cabo Verde e no Brasil, lembrou que, enquanto o Aedes aegypti pica durante o dia, o Culex pica durante a noite.
Por isso, aconselhou as mulheres grávidas a protegerem-se durante o dia e durante a noite.
"Como a doença não tem tratamento e não tem vacina, a prevenção é evitando a picada do mosquito. Se descobrirmos que uma nova espécie tem hábitos diferentes, vamos ter que redirecionar novas ações para combater essa espécie", prosseguiu a investigadora.
Constância Ayres referiu que o Culex está presente em todas as áreas urbanas do mundo inteiro e tanto nos países de clima tropical, subtropical e de clima temperado, como os países mais frios do norte da Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Cabo Verde.
"Já o Aedes aegypti é exclusivo das áreas tropicais e subtropicais", indicou, sublinhando a importância da prevenção e de as pessoas estarem a par das informações.
Em declarações aos jornalistas hoje, também na cidade da Praia, no final de uma visita de quatro dias a Cabo Verde para conhecer as iniciativas do país em matéria de resposta à epidemia de zika, o conselheiro global da UNICEF, Koenraad Vanormelingen, referiu que há uma "possibilidade teórica" de o Culex também transmitir o zika, mas salientou que "não há ainda nenhuma evidência" sobre isso.
Por isso, entende que não se pode tirar conclusões neste momento e que, ao estudo de laboratório brasileiro, precisam ser adicionadas mais pesquisas, mais investigações, para se poder ver se há realmente transmissão do zika pelo Culex.
Na altura, Constância Ayres explicou que a investigação se desenrolou em laboratório, com cerca de 200 mosquitos Culex, e por isso os resultados não eram conclusivos, embora haja "grande probabilidade de que o mosquito transmita o zika aos humanos".
O Brasil é país mais afetado pela epidemia de zika, contabilizando 1.709 casos de microcefalia em recém-nascidos desde outubro do ano passado.
O Recife, a capital do Estado de Pernambuco, é a região mais afetada pelo vírus.
Fonte: Agência Lusa