14 de outubro de 2016
Fiocruz vai analisar amostras retiradas de macacos mortos, RJ
As amostras colhidas na necropsia dos macacos-pregos e saguis encontrados mortos entre segunda,10 e quarta-feira,12 desta semana já estão com a Fiocruz, que fará a análise do material. Em três dias, nove animais foram achados sem vida em diferentes pontos da cidade, e outros sete, doentes. Desses, um acabou morrendo já no Centro de Recuperação de Fauna da Estácio, universidade para onde os bichos foram levados. Enquanto os resultados laboratoriais não saem, a suspeita é que os macacos tenham contraído uma doença infectocontagiosa, que pode ser herpes. E, de acordo com o médico-veterinário e biólogo Jeferson Pires, da Estácio, há risco de surto.
Os animais mortos eram oito macacos-pregos, único primata nativo do Rio a sobreviver à expansão da cidade e considerado quase ameaçado de extinção, e dois saguis (os populares micos), uma espécie híbrida introduzida por aqui, que se formou a partir de animais da caatinga e do cerrado.
Os bichos mortos e doentes foram encontrados no Jardim Botânico, em Vargem Pequena, em Quintino, no Grajaú, na Tijuca e no Cosme Velho.
- Os animais doentes apresentam dificuldade de locomoção e olhos fixos, levando as pessoas a acreditarem primeiro em envenenamento. Mas trata-se de um quadro viral - afirma Jeferson, dizendo que os bichos podem ter ficado doentes no contato com humanos. - Cerca de 80% da população têm herpes. E os macacos são extremamente sensíveis à doença. As pessoas, às vezes, comem um alimento e jogam o resto para eles. Isso pode contaminar o animal.
O conselho do veterinário é não ter contato com esses animais, já que há perigo de a doença ser transmitida para o homem, já que somos geneticamente próximos. Moradores de áreas onde há macacos-pregos, como o Alto Jardim Botânico, estão preocupados, pois esses animais invadem as casas, muitas vezes em bando.
- Tem dias que chegam 50, 60, de uma vez só. No domingo, levaram um pote com mais de um quilo de açúcar que estava numa área aberta da casa. Eu tinha acabado de comprar o pote, por R$ 30 - conta, rindo, o motorista Pedro Braz, que trabalha na casa há mais de 20 anos. - Alguns batem aqui no meu joelho.
Para o geólogo Peter Davies, que mora na região, esse é um caso de saúde pública:
- Eles quebraram vidros aqui de casa. Sempre tento afastá-los, coloquei tela de arame na cozinha por causa deles.
A primatóloga Cristiane Rangel, que pesquisa a espécie, nega que haja proliferação de macacos-pregos, que até correm o risco de se tornarem ameaçados de extinção. A Secretaria municipal de Meio Ambiente divulgou nas redes sociais um alerta, pedindo para que não alimentem os bichos. Segundo o texto, o vírus do herpes, muitas vezes, pode ser assintomático, e o maior risco é a interação com humanos. Segundo a secretaria, "os animais são muito sensíveis ao herpes do homem, e podemos morrer por causa do herpes deles". Ao encontrar um macaco morto ou doente, não se deve tocar ou pegá-lo. A orientação é ligar para o 1746 da prefeitura, que acionará o resgate pela Patrulha Ambiental.
Sentinelas contra epidemias
Dos primatas doentes, dois são saguis e quatro, macacos. São fêmeas, sendo que metade dos que morreram estava em gestação, como conta Cristiane, que participou da necropsia dos bichos e ontem enviou as primeiras amostras viscerais para a Fiocruz. Ela explica que os macacos têm o papel de "sentinelas" ao prevenir surtos e epidemias:
- Eles (os macacos) estão, na verdade, nos protegendo, dando tempo de nos prevenir
Na Praça Pio Onze, no Jardim Botânico, dois macacos-pregos apareceram mortos na terça-feira:
- Eu vi um numa árvore e outro na área de um prédio. Foi muito triste, ainda mais porque pensamos que tinham sido envenenados. Eles nunca nos incomodaram- conta o psicólogo George Helal Filho.
Fonte: O Globo