19 de outubro de 2016
Acre registra 21 casos de doença de chagas em menos de 10 meses
Dados da Sesacre apontam que 19 foram causados pelo açaí contaminado. Casos foram registrados em Feijó, Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves. Houve mortes.
Detalhes da reportagem:
Insetos foram achados em área urbana da segunda maior cidade do Acre. Desde o início do ano, o Acre vem registrando casos de doença de chagas em cidades do interior. Até esta segunda-feira (17), 21 casos da doença foram confirmados. Os dados, que são da Vigilância em Saúde do Acre (Sesacre), mostram que 19 foram causados pelo consumo do açaí contaminado pelo barbeiro - inseto transmissor da doença de chagas.
Os outros dois casos registrados são considerados "vetoriais", quando causados pelo contato direto com o "barbeiro". Os casos ganharam ainda mais repercussão quando a Saúde, no último dia 10, confirmou que exames feitos com cinco amostras de açaí do município de Feijó, no interior do Acre, no período de agosto deste ano, encontraram DNA do inseto. O processo de transmissão da doença de chagas ocorre pelas fezes do barbeiro, que deposita fezes sobre a pele da pessoa, enquanto suga o sangue. A doença também pode ser contraída pela ingestão de açaí, quando o barbeiro se mistura aos grãos e acaba sendo moído junto com o fruto. Os sintomas da doença vão desde febre até alterações no fígado e no coração.
Os dados apontam que o número de casos comprovados da doença de chagas em todo o estado aumentou 250% em relação ao registrado durante todo o ano de 2015. No ano passado foram registrados seis casos, contra os 21 nos nove primeiros meses de 2016.Dos casos registrados, 15 foram de pessoas da mesma família, na zona rural do município de Feijó, distante 366 quilômetros de Rio Branco.
Segundo informações da técnica responsável pela doença de chagas e leishmaniose da Sesacre, Carmelinda Gonçalves, inicialmente 13 da mesma família tinham sido diagnosticadas com a doença, porém, em seguida, foi detectado mais dois membros com a doença. "Dos casos registrados este ano, temos os 15 de Feijó, todos causados via oral, ou seja, pelo consumo de alimento contaminado, no caso, o açaí. Além disso, quatro casos em Rodrigues Alves, também causados pelo consumo do açaí contaminado, e outros dois casos em Cruzeiro do Sul, que foi por via vetorial, causado pelo contato direto com o animal. Acontece quando o inseto [barbeiro] pica a pessoa, suga o sangue e depois defeca", explica a técnica.
Carmelinda afirma que as pessoas que encontrarem o barbeiro em suas residências devem procurar um centro de saúde e informar para que seja feita a verificação se o animal está contaminado e se está instalado na casa. Em caso de suspeita da doença, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde para os exames, tratamento e acompanhamento.
"Orientamos que se a população encontrar barbeiro em casa não mate e procure uma unidade de saúde para que seja feita a identificação se o animal está contaminado. A gente não tem muita ação a fazer para evitar a doença de chagas, além de informar a população a cerca do animal", afirma Carmelinda. Equipe da Fiocruz está na região do Vale do Juruá, no interior do Acre. Exames feitos com cinco amostras de açaí do município de Feijó, no interior do Acre, no período de agosto deste ano, encontraram DNA de barbeiro.
O secretário de Saúde do estado, Gemil Júnior, informou que todas as amostras foram coletadas em um único dia durante o tradicional festival do açaí na cidade de Feijó. Em março deste ano, o casal Francisco Maian da Costa, de 18 anos, e Celiana Silva, de 17, nos dias 26 e 29 de fevereiro, respectivamente, morreram após tomar açaí contaminado pelo barbeiro. A família do casal mora em uma comunidade rural da cidade de Rodrigues Alves, a 627 km da capital acrena. Inicialmente, a doença de chagas era apenas suspeita, sendo confirmado o diagnóstico no dia 11 de março pela Saúde do Acre.
Duas irmãs de Costa também foram diagnosticadas com a doença. A pequena Francisca Adrielly, de 12 anos, ficou internada por mais de um mês no Hospital da Criança, em Rio Branco, e ficou com uma lesão no coração por causa da enfermidade. Dois meses após os casos em Rodrigues Alves, a coordenação que trata sobre doença de chagas no Acre visitou as cidades da região do Vale do Juruá, como Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo. A medida fez parte de uma campanha de prevenção e conscientização após a região registrar nove casos da doença.
Uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília também esteve no local e fez pesquisas na comunidade Nova Cíntra, onde sete casos da doença foram confirmados neste ano.
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