03 de novembro de 2016
Depressão pós-parto atinge uma em cada quatro mães, que enfrentam dificuldades para cuidar dos filhos
Tristeza, alterações de humor, crises de choro, irritabilidade, baixa autoestima, diminuição do desejo sexual e desinteresse pelo bebê. Esses são os sintomas mais comuns de depressão pós-parto, uma doença séria que atinge uma em cada quatro mães que dão à luz no Brasil.
Os dados são de uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz e publicada na revista científica “Journal of Affective Disorders”. Esse é o primeiro estudo sobre o tema a apresentar um retrato nacional da prevalência de sintomas da doença. Para a pesquisa foram entrevistadas 23.896 mulheres, em 200 municípios brasileiros, no período de seis a 18 meses após o nascimento do bebê.
Segundo o estudo, a doença acomete sobretudo mulheres da cor parda, de baixa condição socioeconômica, com antecedentes de transtorno mental, hábitos não saudáveis, como abuso de álcool, muitos partos e que não planejaram a gravidez. “Embora a depressão pós-parto possa acometer qualquer mulher, as de maior vulnerabilidade social têm mais chance de desenvolver esse quadro”, diz a pesquisadora Mariza Theme.
Conforme o psiquiatra Joel Rennó, não há uma explicação comum para esse fenômeno. “Há gatilhos que incidem mais sobre essa população e que acabam levando a pessoa a desenvolver um quadro depressivo.” Rennó acrescenta ainda que as mulheres têm uma queda de até cem vezes do nível de produção dos hormônios masculino e feminino, o que pode contribuir para o surgimento do problema.
Para Theme, a situação poderia ser amenizada com políticas públicas mais efetivas. Segunda ela, não há rastreamento específico para depressão pós-parto nas rotinas do SUS (Sistema Único de Saúde). “O manual pré-natal do Ministério da Saúde diz que o profissional de saúde tem que estar atento a questões físicas e emocionais, entretanto não temos isso estruturado. Uma coisa é um manual, outra é a prática.”
Rennó concorda. “Os quadros são subdiagnosticados, e as consequências são drásticas, tanto para a mãe quanto para a criança, que pode ter atraso no desenvolvimento psicomotor e neurocognitivo.”
Um dos maiores problemas para quem enfrenta a depressão pós-parto é a dificuldade de reconhecer que está doente. Por isso, segundo médicos, a importância do diagnóstico precoce. “Existe a ditadura da felicidade, em que a mulher é proibida de falar que é infeliz na gestação ou após o parto”, explica Rennó.
A ajuda e a compreensão das pessoas próximas também são importantes para as mães que apresentam os sintomas. De acordo com especialistas, as mulheres não devem se intimidar em procurar auxílio para tratar a doença, mas sim encarar como um ato de amor pelo bebê.
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