28 de novembro de 2014
Dia Internacional de Luta contra a Aids: diagnóstico precoce reduz a transmissibilidade do vírus e, por isso, é um importante aliado na luta contra a doença
Chamar a atenção da comunidade internacional sobre as medidas e tratamentos da Aids. Com este objetivo foi instituído, em 1987, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), que 1º de dezembro passaria a ser o Dia Internacional de Luta contra a AIDS. No Brasil, a data passou a ser adotada, a partir de 1988, por uma portaria assinada pelo ministro da Saúde.
Em sintonia com o objetivo do Dia Internacional de Luta contra a Aids, o Rio Com Saúde entrevistou Sandra Lúcia Filgueiras, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). Os atuais desafios no combate à doença e a importância do diagnóstico precoce, que, ao reduzir a transmissibilidade do vírus, é um importante aliado na luta contra a doença, foram alguns dos temas abordados por ela, que destaca: “a Aids é uma doença que afeta de diferentes formas a todos nós. Portanto, o seu controle implica na participação de todos - governos, sociedade civil e cada cidadão e cidadã individualmente na construção de uma sociedade mais justa e saudável”.
Confira a entrevista!
Rio Com Saúde: Qual é, atualmente, o maior desafio em relação à Aids?
Sandra Lúcia Filgueiras: Os avanços tecnológicos relacionados tanto ao tratamento quanto à prevenção do HIV são inegáveis. No entanto, não avançamos na mesma medida em relação à redução de estigmas, preconceitos e atitudes de discriminação em relação às pessoas vivendo com HIV/Aids - PVHA. Neste sentido, enfrentar esta situação e defender o respeito aos direitos humanos continua sendo um desafio a ser enfrentado por todos nós.
Outro desafio importante é a manutenção da adesão ao tratamento antirretroviral pelas PVHA. Nos dias de hoje a adesão, além de ser extremamente importante para a saúde e melhoria da qualidade de vida do indivíduo em tratamento, também contribui para a saúde coletiva, à medida que pessoas soropositivas tratadas e atingindo níveis indetectáveis de carga viral reduzem a transmissibilidade do vírus.
Investir na qualidade dos serviços e das práticas de saúde também é um desafio constante, já que continua necessária a superação de barreiras para o acesso das pessoas aos serviços e cuidados de saúde, inclusive aquelas barreiras que dizem respeito a atendimentos influenciados por padrões morais conservadores (de gênero, raça, credo ou orientação sexual) e discriminatórios por parte da rede de serviços de saúde.
RCS: Há estimativas de quantas pessoas são portadoras do HIV e não sabem? Em que isso impacta o combate e o controle da doença?
Sandra Lúcia Filgueiras: A estimativa é de que 150 mil pessoas no Brasil desconhecem a sua própria sorologia. Isto impacta o controle da epidemia na medida em que se sabendo soropositivas, as pessoas devem ser encaminhadas para os serviços de saúde para que possam construir junto com a equipe de saúde , estratégias de tratamento visando a sua adesão. A adesão é condição fundamental para melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/Aids. Assim, além de testar, é fundamental a garantia do acesso a assistência de qualidade.
Hoje sabemos que em pelo menos 82% dos soropositivos em terapia antirretroviral há supressão da carga viral, acarretando benefícios para o paciente, como a redução da morbidade e da mortalidade, e para a comunidade.
RCS: Em sua opinião, o que faz com que as pessoas não façam o teste?
Sandra Lúcia Filgueiras: Ainda hoje o medo e estigma podem contribuir para que uma parcela importante da população não faça o teste da aids. Outro importante fator é a dificuldade de acesso que muitos ainda vivem para irem a um serviço de saúde em busca do teste, tanto por questões relacionadas ao horário de funcionamento, como a falta ou insuficiência de acolhimento necessário.
RCS: O que pode reverter esta situação?
Sandra Lúcia Filgueiras: Por um lado, investir em alternativas para facilitar o acesso das pessoas à realização do exame diagnóstico. Como, por exemplo, a abertura de unidades de saúde que realizam o teste em horários estendidos (após 18h), expandir a implantação de teste rápido para diagnóstico do HIV (TRD HIV) na rede SUS, a oferta de TRD HIV em locais de fácil acesso das populações que podem estar mais vulneráveis ao HIV/AIDS, fora das unidades de saúde. Existem iniciativas bem sucedidas de testagem móvel e de oferta em espaços de ONGs. Ou seja, diversificar os locais onde possam ser realizados o teste ser ofertado onde as pessoas estão. Por outro lado, continuar investindo em ações que desmistifiquem o HIV, reduzam preconceitos e atitudes discriminatórias sofridas pelas minorias estigmatizadas e de maior vulnerabilidade ao HIV.
RCS: O diagnóstico precoce tem sido apontado por especialistas como uma forma de prevenção e controle da doença que pode ter impacto na diminuição dos índices relacionados a ela. Por quê?
Sandra Lúcia Filgueiras: O diagnóstico precoce é benéfico para a saúde da pessoa que se descobre soropositiva, no caso desta também iniciar precocemente o seu acompanhamento médico/tratamento, ou seja, antes de adoecer e agravar seu estado clínico. Se as pessoas tiverem diagnóstico e tratamento precoces e mantiverem-se aderentes ao tratamento, os seus níveis de carga viral podem se tornar indetectáveis (zerados) e a capacidade de transmissibilidade do vírus é reduzida.
Deve ser destacada, também, a importância do momento da testagem para as orientações de forma geral com relação às mediadas de prevenção e proteção. Os profissionais de saúde devem estar atentos para aqueles usuários que, mesmo tendo o diagnóstico negativo, estão mais vulneráveis a infecção. Devemos aproveitar esse espaço (da testagem) para reforçar mediadas, comportamentos e atitudes que contribuam para a manutenção do status sorológico negativo.
RCS: Quem e quando deve fazer o teste?
Sandra Lúcia Filgueiras: Fazer o teste anti-HIV, ou seja, saber se tem ou não o HIV é importante para todos que potencialmente viveram algum tipo de exposição ao vírus, seja sexual ou outra forma de exposição. Todavia, o que previne o HIV não é fazer o teste regularmente e sim a adoção de medidas preventivas. Lembramos ainda que o teste do HIV é voluntário e não compulsório.