17 de maio de 2012
Com vacina e remédio, por que a tuberculose ainda causa mortes?
Não é de hoje, já faz muito que a tuberculose é um velho inimigo dos homens. Está no período pré-histórico sua origem – sinais da doença já foram encontrados em múmias do antigo Egito e da era pré-colombiana. São antigas, também, as tentativas de enfrentar a doença. Inicialmente, a maior dificuldade era firmar o diagnóstico. Isso se tornou possível com a invenção do estetoscópio e do raio-X, no século 19. A partir daí, os esforços se concentraram no desenvolvimento de medicamentos e de uma vacina.
Em 1921 a vacina BCG foi aplicada pela primeira vez em crianças e em 1944 foi inventado o primeiro antibiótico. “A vacina descoberta em 1921 era oral e, posteriormente, verificou-se não proteger contra a tuberculose, mas na década de 1970 passou-se a usar a vacina BCG intradérmica que, comprovadamente, protege contra as formas graves da doença. Quanto aos antibióticos, descobriu-se ser necessário o uso de diversos deles por pelo menos 6 meses”, detalha Ana Alice Pereira, gerente de Pneumologia Sanitária da SVEA da Secretaria de Estado de Saúde (SES).
Com a vacina aperfeiçoada e medicamentos eficazes, a doença estaria controlada. Certo? Errado
Em 1993, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose como emergência mundial, devido ao recrudescimento da doença principalmente em países desenvolvidos, permanecendo como a maior causa de morte por doença infecciosa em adultos. O surgimento da epidemia de AIDS e o aparecimento de focos de tuberculose multirresistente agravam ainda mais o problema, inclusive no Brasil. O país ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 82% do total de casos no mundo.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2011 foram notificados 69.245 casos, o que representa uma redução de 3,54% em relação a 2010, quando foram registrados 71.790 casos. Na última década, o Brasil também registrou queda na taxa de incidência (15,9%) e na taxa de mortalidade (23,4%). Mas apesar disso, a tuberculose ainda representa a quarta causa de óbitos por doenças infecciosas e a primeira entre pacientes com AIDS. Por que isso ocorre?
“A tuberculose continua matando porque o diagnóstico é tardio – nestes casos, o paciente pode evoluir para um quadro grave, com complicações – ou mesmo nem chega a ser feito, só sendo descoberto com o paciente já em estágio final. Muitas vezes, apesar de passar por uma consulta médica, a suspeita da doença demora a ser feita. A medida mais importante para impactar nas estatísticas da doença é o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento, garantindo a cura”, explica Ana Alice Pereira.
O principal indicador utilizado para avaliar as ações de controle da tuberculose é o percentual de cura dos novos casos
Uma das metas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é identificar 70% e curar, pelo menos, 85% dos casos, como medida para começar a reverter a situação da tuberculose. Em 2010, o Brasil detectou 88% dos casos, no entanto, o alcance do percentual recomendado pela OMS para a cura ainda é um desafio. De 2001 a 2004, o país aumentou o indicador de cura, porém - a partir de 2005 – houve uma estabilização, com índices de 73,5%, em 2009, e 70,3%, em 2010.
“O impacto ocorrerá desde que consiga-se curar pelo menos 85% dos casos e ter, no máximo, 5% de abandono de tratamento”, diz Ana Alice. O abandono do tratamento é, justamente, um dos fatores que impacta, diretamente, as estatísticas da doença. “Abandonar o tratamento significa voltar a transmitir a doença, mais pessoas infectadas e mais pessoas adoecendo”, alerta Ana Alice. Ela explica que, ao se tratar os pacientes que estão transmitindo a doença, corta-se a cadeia de transmissão, diminuindo o número de pessoas infectadas e, portanto, o número de pessoas que adoecerão.
Mas o diagnóstico e o tratamento não são os únicos desafios em relação à tuberculose. “A situação sócio-econômica precária é umas das responsáveis pela disseminação da doença. Moradias com pouca ventilação, sem entrada de sol e com grande aglomeração de pessoas facilitam a disseminação da doença. Além disso, as pessoas com nutrição precária têm imunidade baixa, o que facilita o desenvolvimento da doença”, afirma a gerente da SES.
Para tentar reverter isso, a Secretaria desenvolve um trabalho prioritário nos 14 municípios com maior carga da doença no estado, responsáveis por 85 % dos casos. Além disso, a população também pode fazer a sua parte. “A população pode e deve participar dos Conselhos Comunitários de Saúde, acompanhando e cobrando ações para melhoria do atendimento e controle da doença”, cita Ana Alice. É necessário, também, imunizar as crianças de até 4 anos, obrigatoriamente as menores de 1 ano, com a vacina BCG. A prevenção inclui, ainda, evitar aglomerações, especialmente em ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar.