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16 de dezembro de 2013
Leishmaniose Visceral: saiba mais sobre a doença e previna-se

Leishmaniose Visceral: saiba mais sobre a doença e previna-se
No dia 2 de dezembro o Grupo Técnico das Leishmanioses (GT Leishmanioses) da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) realizou uma reunião com profissionais de diferentes áreas dos municípios de Angra dos Reis, Armação de Búzios, Barra Mansa, Casimiro de Abreu, Itaguaí, Macaé, Mangaratiba, Maricá, Niterói, Paraty, Petrópolis, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São Fidélis, Saquarema, Valença e Volta Redonda, no auditório do Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen/RJ).

A reunião encerrou um ano de atividades que o grupo vem realizando com municípios considerados prioritários para a Leishmaniose Visceral Americana (LVA) em função da presença da doença nos seres humanos, nos cães ou em ambos, ou ainda, pela presença do vetor. Mas por que a LVA preocupa tanto? Para saber mais sobre essa doença o Rio Com Saúde entrevistou a Coordenadora do GT Leishmanioses da SES/RJ, Dra. Patrícia Moza e sua equipe: Paula Almeida e Tatiana Medeiros, médicas veterinárias; Cristina Giordano, bióloga; e Maria Inês, médica. Confira!

Rio Com Saúde: O que é a Leishmaniose Visceral? Qual a forma de transmissão e quais são os sintomas?

Paula Almeida: A Leishmaniose Visceral Americana (LVA) é uma zoonose que aqui nas Américas é causada por um parasita da espécie Leishmania (Leishmania) infantum chagasi. Este parasita é transmitido para os animais através da picada da fêmea do inseto vetor, flebotomíneo, conhecido popularmente como mosquito palha. Na Mata Atlântica, animais silvestres fazem parte do ciclo da doença, como o canídeo selvagem (raposa), entre outros.

Com o processo de urbanização, o cão doméstico acabou sendo inserido no ciclo de transmissão da doença tal qual o ser humano. No ser humano os principais sinais clínicos da doença são febre por período prolongado (mais de sete dias) e aumento do fígado e do baço (hepato e esplenomegalia).

Já no cão, cerca de 60% dos animais permanecem infectados e como fonte de infecção da doença para o ser humano, porém, sem apresentar qualquer sintoma da doença, ou seja, a maioria dos cães permanece aparentemente sadio. Aqueles que apresentam sinais clínicos da doença, geralmente os sinais mais encontrados são perda de peso ou emagrecimento, onicogrifose ou crescimento exacerbado das unhas e descamação furfurácea, que é um sinal bem visível no pelo desses animais. Entretanto, vários outros sintomas podem aparecer, incluindo vômitos e diarreia. Muitas vezes é comum os animais apresentarem outras doenças associadas à LVA como a erliquiose e a sarna, que são comuns em nosso meio.

RCS: Há alguma relação entre os casos em cães e em humanos? De que forma?

Paula Almeida: Sim, já foi comprovado cientificamente que os cães fazem parte do ciclo de transmissão da doença para o ser humano, uma vez infectados, eles permanecem com os parasitas circulando em seu organismo e na pele dos animais em grande quantidade, de maneira que estes animais servem de fonte de infecção para o inseto vetor flebotomíneo, que irá picar o cão e consequentemente se infectar. A fêmea do flebotomíneo infectado poderá tanto picar outro animal quanto picar um ser humano e assim transmitir a doença, dando continuidade ao ciclo de transmissão. É comum os casos de LVA em cães antecederem os casos de LVA em seres humanos. No caso da LVA aqui nas Américas o flebotomíneo envolvido na transmissão é o da espécie Lutzomyia longipalpis.

RCS: Pessoas podem transmitir a doença para outras pessoas?

Cristina Giordano: O ciclo de transmissão pode ocorrer tanto entre cães, quanto entre seres humanos, basta a fêmea do flebotomíneo picar um ou outro que esteja infectado pelo parasita. Claro que tudo isso leva um tempo, tempo de desenvolvimento inclusive do parasito no interior do flebotomíneo até que ele se torne apto a transmitir. Os ciclos de transmissão das doenças transmitidas por vetores e zoonoses possuem tempos alternados que dependem de vários fatores como o tipo de vetor envolvido, assim como o tipo de parasita e hospedeiro. Mas vale destacar que no ciclo biológico do inseto vetor da LVA, diferente do que ocorre na dengue, os ovos da fêmea do flebotomíneo Lutzomyia longipalpis não são encontrados em água, mas sim, no solo rico em matéria orgânica em decomposição, o que torna a prevenção e controle bem mais complicados.

RCS: A doença atinge, também, outros animais? Quais?

Tatiana Medeiros: Sim, é uma doença que quando presente em ambiente silvestre atinge animais como raposa, gambá e bicho preguiça, e no ambiente urbano o principal animal envolvido no ciclo de transmissão é o cão doméstico, mas também pode atingir alguns animais sinantrópicos como as espécies de roedores urbanos.

RCS: Como deve ser feita a prevenção e o controle?

Paula Almeida: Uma vez que a fêmea do vetor da doença coloca seus ovos no solo rico em matéria orgânica, as medidas preventivas dirigidas ao vetor devem ser voltadas para o manejo do ambiente, evitando o acúmulo de matéria orgânica; mantendo os quintais limpos, sem restos de folhas, frutas e galhos caídos no solo; podando as árvores; evitando presença de lixo; e mantendo os abrigos animais como galinheiros e pocilgas, distantes das residências.

Como medida preventiva deve-se telar os canis e demais abrigos com telas de malhas bem finas (telas com malhas menores de 1 milímetro), pois o flebotomíneo é bem pequeno. As pessoas devem evitar se expor na mata no horário de maior atividade do flebotomíneo que é no crepúsculo e durante a noite e usar roupas que cubram o corpo o máximo possível e usar repelentes quando for inevitável a exposição.

O manejo do ambiente é a principal arma contra a doença, pois se não permitirmos a presença do flebotomíneo em nossas casas ou próximo a ela, o vetor não estará presente no ambiente humano e não conseguira infectar nem nossos animais, nem nós mesmos.

RCS: Quais as ações de vigilância que são/devem ser realizadas? Qual a importância delas?

Patrícia Moza: As ações de vigilância são diversas e incluem as medidas de manejo ambiental descritas acima e educação em saúde para população, pois a maioria das medidas de manejo ambiental só pode ser feita com a participação da população, que deve se responsabilizar pelas suas residências. Os serviços de saúde são responsáveis pelo monitoramento do vetor flebotomíneo com colocação de armadilhas para sua captura, assim como prestar assistência ao paciente, desde a suspeição, tratamento oportuno até o encerramento do caso.

Também deve-se fazer contato com os médicos veterinários, capacitando-os para o diagnóstico e notificação dos casos caninos em áreas de transmissão (com inquérito sorológico canino realizado), informar as medidas de proteção individual e coletiva da população, notificação imediata de casos tanto humanos quanto caninos aos serviços de vigilância, análise e divulgação dos dados epidemiológicos, elaboração de notas técnicas e alertas, orientação para colocação de coleiras em cães em áreas de transmissão e eutanásia de cães sororreagentes.

Rio Com Saúde: Quais ações que a Secretaria Estadual de Saúde realiza para enfrentar esse novo desafio que é a introdução da LVA no estado?

Patrícia Moza: Nós da SES/RJ temos uma ação complementar às ações municipais. Coordenamos e supervisionamos os municípios através de notas técnicas, treinamentos ou capacitações e visitas técnicas com o objetivo de orientar os técnicos e sensibilizar os gestores para a necessidade de execução e intensificação das ações de vigilância e controle. No início deste ano elaboramos e divulgamos notas ou boletins epidemiológicos com orientações e contatos – clique aqui para acessar a página de dados e Documentos e em “Buscar por” procure pelo item Leishmaniose Visceral. http://www.riocomsaude.rj.gov.br/site/Conteudo/Dados.aspx

Realizamos, em parceria com o IPEC /FIOCRUZ, capacitações para médicos, enfermeiros e médicos veterinários. Fazemos, ainda, coletas de vetores, capacitação e fornecimento de armadilhas aos municípios. Outra medida importante é a entrada do GT Leishmanioses em fóruns de discussão de gestores municipais como a Comissão Intergestores Regional (CIR), que contou com a participação de gestores da Região do Médio Paraíba, onde ocorreram mais casos humanos da doença. Justamente nesta região realizamos o I Encontro Regional para a Vigilância da Leishmaniose Visceral.


Secretaria de saúde
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