A hipertensão é uma doença que age de forma silenciosa. Para saber mais sobre ela o Rio Com Saúde entrevistou a médica clínica de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Secretaria de Estado de Saúde, Vânia Cochlar. Confira!

Rio Com Saúde: O que é a hipertensão arterial?

Vania Cochlar: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos como coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. Para a definição de HAS considera valores de PA sistólica maiores ou iguais a 140mmHg e/ou de PA diastólica maiores ou iguais a 90mmHg, sendo que o diagnóstico deve ser validado por medidas de pressão repetidas em condições ideais em pelo menos duas a três ocasiões.

RCS: Trata-se de uma doença silenciosa, na qual muitas vezes o diagnóstico é tardio pela ausência de sintomas. De que forma a doença pode ser identificada?

Vania Cochlar: A hipertensão arterial sistêmica é considerada um dos principais fatores de risco para doença cardiovascular e é considerada um dos mais importantes problemas de saúde pública. O seu diagnóstico tardio implica na possibilidade da já haver lesões de órgãos. Aferir a Pressão Arterial regularmente é uma medida favorável a detecção da doença em pacientes assintomáticos, principalmente se houver fatores associados como vários membros da família com HAS (especialmente os pais), etnia negra, índice de massa corporal (IMC) acima de 25Kg/m2, uso de medicamentos como corticóides e vasoconstrictores nasais, sedentarismo, estresse emocional, tabagismo, apneia do sono, uso de drogas ilícitas, entre outros.

RCS: Quais são as causas da doença?

Vania Cochlar: Na maioria dos casos (quase 95%) não se sabe com precisão a causa, sendo a HAS conhecida como primária ou essencial, mas muitos fatores podem estar relacionados, como hereditariedade, idade, etnia e peso. A falta de exercícios, sal em excesso, álcool, tabagismo, estresse, distúrbios da glicose e dos lipídios, são outros fatores envolvidos. Em 3 a 5% dos casos, a HAS é considerada secundária a causas específicas como Apneia obstrutiva do sono, Hiperaldosteronismo primário, Doença renal parenquimatosa, Doença renovascular, Feocromocitoma, Hipotireoidismo, Hipertireoidismo, Hiperparatireoidismo, Síndrome de Cushing e Acromegalia.

RCS: Quais são os cuidados que se deve ter para prevenir a hipertensão?

Vania Cochlar: Ter uma alimentação saudável, evitando açúcares, sal, gorduras e alimentos industrializados em excesso e caprichando nas verduras, frutas e legumes. Praticar exercícios físicos com regularidade (três a cinco dias na semana, por pelo menos 30 minutos) também é uma medida que contribui para a prevenção das doenças cardiovasculares. Opções como fazer caminhadas, subir escadas ao invés de usar o elevador, andar de bicicleta, nadar, dançar, são atividades que podem ser realizadas no dia a dia, sem um desgaste maior. É importante diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e evitar o tabagismo, além de controlar o estresse. Deve-se procurar manter seu peso corporal (IMC de 20 a 24.9Kg/m2).

RCS: Qual é o tratamento indicado?

Vania Cochlar: Além das medidas não farmacológicas descritas anteriormente, que são de grande valia, na incapacidade de se controlar a pressão arterial lança-se mão de medicamentos como os diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina, bloqueadores do receptor da angiotensina, betabloqueadores, antagonistas do cálcio, simpaticolíticos de ação central e vasodilatadores diretos. Cada paciente deve ser avaliado de forma individualizada, levando-se em conta outras doenças associadas e possíveis reações adversas que os medicamentos podem desencadear. O acompanhamento médico deve ser regular e a seriedade no tratamento é imprescindível.

RCS: A hipertensão atinge uma faixa etária específica ou ela pode atingir pessoas de qualquer idade?

Vania Cochlar: Em geral a hipertensão aumenta de incidência com a idade, porém, pacientes com HAS secundária (que tem uma causa definida, como doença renal por exemplo) podem apresentar a doença desde muito jovens.

RCS: Quais são as consequências da hipertensão?

Vania Cochlar: Se a hipertensão arterial sistêmica não for devidamente tratada, pode ocasionar doenças cerebrovasculares como acidentes vasculares encefálicos (AVE), também conhecido como AVC ou leigamente como “derrame”; doenças no coração, como insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana (angina e infarto); insuficiência renal; alterações na visão e alterações arteriais periféricas, dificultando que o paciente ande normalmente pela dor muscular frente a não perfusão adequada do tecido.