26 de novembro de 2015
São José da Coroa Grande sofre com surto de leishmaniose, PE
O município de São José da Coroa Grande, na região turística do Litoral Sul, vive um pesadelo silencioso. Todos os dias, famílias que têm cães de estimação acordam sobressaltadas com a possibilidade de enfrentarem um diagnóstico positivo de leishmaniose visceral, também chamada de calazar, em seus animais.
O medo tem razão de existir. A constatação do mal é a certeza do sacrifício do cão, por determinação do Ministério da Saúde. Se permanecem vivos e sem tratamento, mantêm em aberto o ciclo de contaminação que pode atingir o ser humano. A situação se agrava porque o município, que tem 19,6 mil habitantes e fica a 114 km do Recife, suspendeu a eutanásia dos animais por falta de material. Quando não morrem por conta da doença, os cães estariam sendo sacrificados por leigos, de forma indiscriminada.
A doença é transmitida quando o animal ou o ser humano são picados pelo mosquito palha (flebótomo – Lutzomyia ) contaminado. Enfermo, o cão torna-se um foco e, picado novamente, contribui para a infecção. Nos últimos seis meses, somente uma veterinária do município constatou a doença em 55 animais. Quarenta foram sacrificados. Na prefeitura, o exame para constatar o calazar foi feito em apenas 220 animais até março, porque os kits enviados pelo governo estadual acabaram. Até agora, fala-se em 30 doentes, pois novas confirmações podem chegar do laboratório do estado. Apenas quatro foram eutanasiados, pois o material para o procedimento, adquirido pelo município, também foi insuficiente. O destino dos demais é uma incógnita. Os números são subnotificados e, na realidade, devem ser bem maiores. Inclusive no que diz respeito aos casos em seres humanos. No ano passado, a prefeitura registrou a morte de uma pessoa. Este ano não foram contabilizados pacientes.
A leishmaniose é considerada uma doença de pessoas pobres. Negligenciada, a infecção já chegou a atingir 62% da população rural do estado há 20 anos. Quem diz isso é a sanitarista Edileuza Brito, da Fiocruz. “Não se controla a existência do flebótomo. Não dá para jogar inseticida numa mata. O homem deveria conviver bem com o mosquito. Usar repelente e viver a 300, 400 metros da mata já resolveria o problema. Mas que opção tem quem quase não tem o que comer?”.
Pernambuco, assim como o resto do Nordeste, ainda sofre com a endemia. Na forma visceral, pode levar até à morte. No entanto, a infecção muitas vezes não se manifesta enquanto doença, o que contribui para a morosidade no enfrentamento do problema. Até mesmo o estudo de incidência não é atualizado com a frequência necessária para que se evite a subnotificação.