08 de setembro de 2016
Pesquisa da Fiocruz Minas investiga reincidência da malária

Estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz Minas trata uma das questões que mais desafiam os cientistas que estudam a malária: os casos de recaídas sofridas por pacientes que se submeteram ao tratamento da doença. Segundo a pesquisa, uma das causas para os episódios de reincidência pode ser a mutação genética da enzima responsável por metabolizar a primaquina, medicamento utilizado para combater as formas do parasito ocultas no fígado.
Estudos anteriores demonstraram que a CYP2D6 é a enzima encarregada de fazer as transformações necessárias sob a droga, sendo, portanto, uma das responsáveis pela ativação e eficácia do medicamento no organismo. Alguns trabalhos também apontaram que essa enzima sofria uma grande quantidade de mutações, levando a uma maior ou menor metabolização da droga. Dessa forma, o que os pesquisadores da Fiocruz fizeram foi avaliar se essas alterações genéticas, chamadas poliformismos, associadas à metabolização baixa ou inexistente, poderiam influenciar na biotransformação da primaquina, resultando em ocorrências de episódios de recaída da doença.
Para fazer a investigação, os pesquisadores avaliaram 46 pessoas que passaram pelo tratamento de malária e, posteriormente, voltaram a apresentar os sintomas da doença. Os pacientes foram divididos em dois grupos: os que tiveram múltiplas recaídas e os que tiveram uma única recaída. Assim, utilizando o PCR em Tempo Real, um método para caracterização dos genótipos dos indivíduos, os pesquisadores constataram que, no grupo de múltiplas recaídas, havia mais indivíduos com enzimas polimórficas.
A prevalência de mutações foi de aproximadamente duas vezes maior entre indivíduos que tiveram múltiplos episódios de recaída quando comparado com o grupo de uma única reincidência. Além disso, nesse grupo de múltiplas recaídas, também se verificou a predominância de genes associados ao baixo metabolismo da primaquina.
Além de avaliar a CYP2D6, a pesquisa também investigou as mutações sofridas por uma outra enzima, a CYP2C8, que é responsável por metabolizar a cloroquina, medicamento usado para combater a forma do parasito que atinge o sangue. Os resultados mostraram que a ocorrência de polimorfismos nessa enzima não diferiu entre os grupos de indivíduos com diferentes números de recaídas. Entretanto, constatou-se, pela primeira vez, que indivíduos com mutações nessa enzima têm recaídas mais precocemente.
Outra importante conclusão do estudo é que os parasitos da primeira infecção são idênticos aos das posteriores. Isso evidencia a possibilidade de que recaídas se devem a falhas terapêuticas dos medicamentos.
A doença
A malária é uma doença infecciosa, não contagiosa, com manifestações episódicas. Os sintomas são calafrios fortes, acompanhados de dor de cabeça, náusea e sudorese profunda. São sintomas que se repetem em ciclos diários, em dias alternados ou a cada três dias e podem durar de uma semana a um mês ou mais. Os parasitos causadores são Plasmodium falciparum, que provoca a forma mais grave da doença, Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale.
A malária é transmitida ao homem através de picada de mosquitos vetores do gênero Anopheles. Somente as fêmeas são hematófagas e transmitem o agente infeccioso, normalmente ao crepúsculo e à noite. É preciso que o vetor tenha adquirido previamente o parasita depois de picar uma pessoa com a doença. A transmissão também pode ser acidental, através de transfusão de sangue contaminado ou pelo uso de agulhas e seringas infectadas, bem como por via congênita, com a transmissão da mãe para o bebê na gestação.
Leia a pesquisa na íntegra, em inglês.