20 de dezembro de 2016
Estudo da Fiocruz aponta alta eficácia de medicamento contra malária

Um estudo realizado por mais de dois anos com cerca de 160 pacientes aponta que o medicamento ASMQ, composto pela combinação dos fármacos artesunato e mefloquina, é altamente eficaz para o tratamento dos casos de malária provocados pelo Plasmodium falciparum. A pesquisa foi realizada no Vale do Juruá, no Acre, maior foco da doença no Brasil.
Pacientes recrutados no município de Cruzeiro do Sul foram acompanhados por 42 dias após o início da terapia. Os exames apontaram rápida cura clínica e parasitológica em todos os casos. Análises moleculares também descartaram a presença, entre os parasitos, de marcadores genéticos associados à resistência aos fármacos.
Os resultados foram publicados na revista científica The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. Para os autores, os achados sustentam a possibilidade de adoção do ASMQ como primeira linha no tratamento da forma não grave da malária causada por P. falciparum na região, especialmente considerando a vantagem de seu esquema de administração.
Terapia combinada
Desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) em parceria com a organização sem fins-lucrativos Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês), o ASMQ segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento da malária provocada pelo P. falciparum. A formulação combina um derivado da artemisinina – o artesunato – com um antimalárico de efeito prolongado – a mefloquina. O objetivo é aumentar a chance e velocidade de cura e reduzir a possibilidade de desenvolvimento de resistência aos componentes da combinação: os derivados da artemisinina possuem ação potente e rápida, eliminando em curto período a maior parte dos parasitos, enquanto os fármacos associados permanecem por mais tempo no organismo, combatendo os possíveis micro-organismos restantes.
O ASMQ integra as listas de medicamentos essenciais da OMS para adultos e crianças. No sudeste asiático, a combinação é fabricada e comercializada pela empresa indiana Cipla, que recebeu transferência de tecnologia de Farmanguinhos. Já na América Latina, alguns países têm acesso ao fármaco por meio de doações feitas pela unidade da Fiocruz. Em setembro, o Complexo Tecnológico de Medicamentos recebeu uma delegação da OMS para uma auditoria, com o objetivo de pré-qualificar o medicamento, o que permitirá a oferta comercial do produto no mercado internacional.
Malária no Brasil
A Amazônia concentra mais de 99% dos casos de malária no Brasil, onde a doença pode ser causada por três espécies de parasitos do gênero Plasmodium: P. vivax, P. falciparum e P. malariae. Embora não seja o parasito mais frequente, o P. falciparum preocupa porque é a espécie que provoca a forma mais grave da doença. Em 2015, o Brasil registrou o menor número de casos de malária dos últimos 35 anos, com 143 mil notificações, sendo 15,4 mil causadas pelo P. falciparum.
Independentemente da espécie de parasito, a malária é transmitida pela picada de mosquitos infectados do gênero Anopheles. O principal sintoma é a febre. Além disso, os pacientes podem apresentar episódios de calafrios, dor de cabeça, dor no corpo e artralgia – dor nas articulações. O tratamento é feito com medicamentos antimaláricos que variam conforme a espécie de Plasmodium causadora da infecção.
Acesse aqui o estudo.