03 de janeiro de 2017
Pesquisa revela altas taxas de resistência aos antimicrobianos no país
Globalmente elevados, os índices de resistência da gonorreia a certos medicamentos preocupam o mundo – recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a ciprofloxacina uma opção viável para o tratamento dessa infecção sexualmente transmissível (IST). Diante disso, Departamento das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV), do Ministério da Saúde, coordenou, em parceria com o Laboratório de Biologia Molecular e Microbactérias da Universidade Federal de Santa Catarina o Projeto de Vigilância da Resistência de Neisseria gonorrhoeae aos antimicrobianos. O estudo foi realizado entre 2015 e 2016.
A pesquisa revelou que há taxas de resistência à ciprofloxacina, à penicilina e à tetraciclina superiores a 50% em todas as regiões do país. A única exceção é a Região Norte, que apresentou uma taxa de 47% de resistência a ciprofloxacina. Com relação a ceftriaxona e cefixima, todos os isolados estudados foram sensíveis a essas cefalosporinas de terceira geração. Esses resultados corroboram a atual recomendação terapêutica da OMS, lançada em 2016, no sentido de substituir a ciprofloxacina pela ceftriaxona ou cefixima, na terapia dupla, com azitromicina, como opção de tratamento para infecções gonocócicas. Ainda, segundo a OMS, um agente antimicrobiano não deve ser usado quando, em estudos de vigilância in vitro, mais de 5% das culturas gonocócicas demonstrarem resistência a esse antimicrobiano em questão.
Gonorreia
A gonorreia, causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae – também conhecida como gonococo – é a segunda infecção sexualmente transmissível (IST) bacteriana mais comum no mundo. Atualmente, o gonococo já é considerado um microrganismo multirresistente. Quando não tratada de maneira correta, ou quando o gonococo desenvolve resistência ao tratamento empregado, a gonorreia pode causar danos graves e até irreversíveis, como doença inflamatória pélvica, gravidez ectópica, abortamento e infertilidade, com graves consequências médicas, sociais, psicológicas e econômicas, em mulheres e homens.
Estima-se que, somente no Brasil, existam cerca de 500 mil novos casos por ano. O cenário epidemiológico da infecção no país acompanha os altos índices mundiais. De acordo com as estimativas, a prevalência da gonorreia na população de 15 a 49 anos é de aproximadamente 1,4%.
Qualquer prática sexual pode transmitir a gonorreia – seja o contato oral, vaginal ou anal. A bactéria se prolifera em áreas quentes e úmidas do corpo, incluindo o canal que leva a urina para fora do corpo, a uretra. Pode ser encontrada também no sistema reprodutor feminino, que inclui as tubas uterinas, o útero e o colo do útero. Há ainda a transmissão de mãe para filho durante o parto. Em bebês, a gonorreia costuma se manifestar principalmente nos olhos, na forma de conjuntivite grave, mas também pode haver infecção disseminada.