07 de fevereiro de 2017
Fiocruz Amazonas usa mosquitos para disseminar larvicida
Usar o mosquito para combater dengue, chikungunya e zika. A princípio pode parecer que a frase e a ideia não fazem sentido, mas isso que aponta um estudo de pesquisadores da Fiocruz Amazônia. Eles testaram o uso dos próprios mosquitos transmissores dos vírus zika, dengue, chikungunya ou febre amarela para atuar no controle de surtos epidêmicos dessas doenças e o resultado foi surpreendente.
No estudo, os pesquisadores Fernando Abad-Franch, Elvira Zamora-Perea e Sérgio Luiz Bessa Luz, do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazonas), verificaram a capacidade de utilização dos próprios mosquitos para disseminar o larvicida Pyriproxyfen em criadouros aquáticos, por meio de uma espécie de armadilha, chamada de estação disseminadora de larvicida. Os ensaios foram realizados em Manacapuru (AM), durante dois anos, de fevereiro de 2014 a janeiro de 2016.
Metodologia
Para a pesquisa foram selecionadas 100 habitações em Manacapuru, distribuídas uniformemente pela cidade, para a vigilância de mosquitos, como criadouros sentinela, monitorando as populações locais de mosquitos, por um ano. Depois, foram distribuídas por toda a cidade mil estações disseminadoras de larvicida – recipientes com as paredes cobertas por um pano preto, tratado com pó de Pyriproxyfen. As estações disseminadoras continham um pouco de água para atrair as fêmeas dos mosquitos.
As mudanças na população de mosquitos foram percebidas 15 dias após a distribuição das estações disseminadoras. O número de larvas de Aedes nos criadouros sentinela caiu em 80-90%, e a mortalidade das larvas aumentou para 80-90% durante a disseminação de Pyriproxyfen. O número de mosquitos adultos emergindo dos criadouros despencou em mais de 95% na cidade inteira, de forma que a emergência de fêmeas de Aedes caiu de 500-600 por mês antes da intervenção, para um mínimo de uma única fêmea no sexto mês de disseminação.
Por fim, os pesquisadores usaram modelos matemáticos para investigar o impacto potencial desta drástica redução da emergência de fêmeas de Aedes na cidade. O número de fêmeas de Aedes na localidade simplesmente não seria suficiente para manter a transmissão do vírus, e o surto desapareceria rapidamente, sem alcançar dimensões de epidemia.
Os autores do trabalho destacam que novos testes devem ser feitos, incluindo cidades maiores e cenários ecológicos e socioeconômicos diversos. É também essencial medir diretamente o impacto da intervenção na transmissão de doenças, para comprovar se as predições dos modelos matemáticos se ajustam à realidade. Novos ensaios ocorrerão ainda em 2017, mas a conclusão, até agora, foi de que, mesmo sob cenários adversos, a estratégia pode tornar-se uma importante ferramenta para melhorar a saúde pública global, sinalizando novos caminhos na prevenção de doenças transmitidas por mosquitos.
O estudo foi publicado pela PLOS Medicine com o título Mosquito-Disseminated Insecticide for Citywide Vector Control and Its Potential to Block Arbovirus Epidemics: Entomological Observations and Modeling Results from Amazonian Brazil. Leia aqui.