12 de maio de 2017
Quem espera, espera: Unicef cria campanha pelo direito de nascer na hora certa
Ao longo da gravidez e, sobretudo no final dela, é natural que a família e, principalmente, a mãe fiquem ansiosos. Será que não está demorando muito? Por que esperar mais? O bebê não já tá pronto para nascer? Estas questões aparecem e são naturais, mas é preciso ter em mente que a maneira mais precisa de se saber se uma criança está pronta para nascer é esperar que ela mesma dê o alerta.
Quando o bebê está pronto, o trabalho de parto se inicia espontaneamente e pode resultar em um parto normal – quando tudo corre bem – ou em uma cesariana, caso seja necessária uma intervenção cirúrgica. O trabalho de parto é muito benéfico e importante tanto para a mãe quanto para o bebê.
É durante o trabalho de parto, por exemplo, que são liberadas substâncias que ajudam no amadurecimento final do organismo da criança, como o hormônio corticoide, que age no pulmão. Para a mulher, o trabalho de parto ajuda também a liberar hormônios importantes, que vão prepará-la para a amamentação. Para conscientizar sobre a importância do trabalho de parto o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lançou a campanha Quem espera, espera.
Segundo o Unicef, estudos conduzidos nos últimos anos mostram que cada semana a mais de gestação aumenta as chances de o bebê nascer saudável, mesmo quando não há mais risco de prematuridade. As últimas semanas de gestação permitem maior ganho de peso, maturidade cerebral e pulmonar. Segundo a pesquisa Nascer no Brasil, em 2012, 35% dos bebês analisados nasceram entre a 37ª e a 38ª semana de gestação. Embora não sejam consideradas prematuras, estudos demonstram que essas crianças – aparentemente saudáveis – são mais frequentemente internadas em UTI neonatal, apresentam problemas respiratórios, maior risco de mortalidade e déficit de crescimento.
Cesarianas desnecessárias
O grande número de nascimentos entre a 37ª e a 38ª semana de gestação está associado ao elevado número de cesarianas realizadas antes do trabalho de parto espontâneo, particularmente no setor privado – onde metade dos partos realizados ocorrem nesse período. O Brasil é o 2º país no mundo em percentual de cesarianas. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece em até 15% a proporção de partos por cesariana, no Brasil esse percentual é de 57%. Elas representam 40% dos partos realizados na rede pública de saúde. Já na rede particular, chegam a 84% dos partos.
Sabe-se que, em uma situação de alto risco, a cesariana pode salvar a vida da mulher, do bebê ou de ambos. No entanto, utilizar a cesariana de forma eletiva – como regra, não exceção – é, segundo o Unicef, inaceitável, do ponto de vista das evidências científicas. Além de privar mulher e bebê dos benefícios do trabalho de parto espontâneo, a cirurgia os expõe a riscos e procedimentos desnecessários. Segundo a OMS, há um risco seis vezes maior de complicações graves para a mulher, associadas à cesariana, especialmente quando realizada sem indicação com base em evidências científicas.
Os impactos do nascimento prematuro
Outro ponto de alerta com relação ao momento certo de nascer é o grande número de crianças prematuras no Brasil. Somente em 2014, 332.992 meninos e meninas (11,2% do total) nasceram antes da 37ª semana de gestação no país. Os números preocupam, uma vez que as complicações relacionadas com a prematuridade são a primeira causa de mortes neonatais e infantis em países de renda alta e média, incluindo o Brasil.
Estudo mostrou que os principais fatores de risco associados à prematuridade são gravidez na adolescência, baixa escolaridade e pré-natal de baixa qualidade. De acordo com a pesquisa, 61% dos nascimentos prematuros analisados aconteceram de forma espontânea. Os outros 39% decorreram de intervenções obstétricas (indução do parto ou cesariana). Destes, pelo menos nove em cada 10 partos foram cesarianas.
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