21 de março de 2016
Cientistas fazem força-tarefa por genomas do zika
Cientistas de várias partes do mundo, em especial do Brasil, estão trabalhando para obter o maior número possível de sequenciamentos completos do genoma do vírus zika. Os dados do GenBank - uma coleção pública do governo americano que contém todas as sequências genéticas registradas no mundo - mostram um aumento expressivo no número de genomas sequenciados do vírus recentemente. Apenas três haviam sido registrados até o fim de 2013. Onze foram feitos entre 2014 e 2015. Em 2016, já foram realizados 30 - 5 em janeiro, 18 em fevereiro e 7 neste mês. O mapeamento genético do vírus a partir de diferentes amostras é considerado pelos cientistas uma ferramenta fundamental para identificar mutações em seu genoma que mostrem por que ele se torna severo, isto é, por que pode resultar em microcefalia.
De acordo com o biólogo Renato Aguiar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), embora as tentativas de mapear o vírus geneticamente cresçam exponencialmente, será preciso fazer muito mais. "Ainda é muito pouco. Precisamos de mais amostras para fazer sequenciamentos relacionados a casos mais ou menos severos, a fim de identificar peculiaridades genéticas", disse.
Ele participou da equipe da UFRJ e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocuz) que, em fevereiro, sequenciou o genoma completo do vírus. Graças àquele trabalho, os cientistas descobriram que o vírus circulante no Brasil estava associado ao que causou uma epidemia na Polinésia Francesa em 2013.
"O vírus tinha uma diferença de 10% em relação ao que circula na África sem causar epidemias. Queremos investigar se essa diferença no RNA deu alguma característica que o tornou mais agressivo para as células neurais, causando problemas como a microcefalia."
"Precisamos de muito mais. Temos de estudar os genomas de vírus geograficamente diversos associados a casos de microcefalia severa, de pacientes que resistiram, que morreram, que tiveram sintomas mais leves, e assim por diante. Assim poderemos traçar comparações e verificar se existem mutações associadas à microcefalia", disse.
Segundo Renato Souza, pesquisador do Instituto Adolfo Lutz, a tendência é que os estudos genômicos incluam amostras de diversas regiões. "Quanto maior a diversidade de amostras, maior será a profundidade das análises", explicou.
Fonte: Agência Estado