30 de maio de 2016
Uma vacina em constante mutação
Todo ano uma vacina inteiramente nova é produzida para combater uma mesma doença: a gripe. E o motivo desse trabalho incessante é a "inteligência" do influenza, um dos vírus que mais passam por mutações, gerando uma série de subtipos e linhagens, como o h1n1 e o h3n2, ambos pertencentes ao tipo A. Entre um inverno e outro - época em que há mais disseminação dos vírus -, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica quais foram as três ou quatro estirpes mais comuns em circulação na temporada anterior e, a partir dessas cepas, desenvolve a imunização. Agora, um grupo de cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, defende o uso de sequenciamento genético para encontrar os padrões de mutação dos vários subtipos do vírus da gripe e, assim, preparar a melhor vacina para proteger contra a versão atualizada deles.
Dada a velocidade das mutações do influenza, é comum surgir uma cepa nova em cima da hora, sem que dê tempo de incluí-la na elaboração da vacina. Isso aconteceu na temporada de gripe de 2015, quando a imunização utilizada mostrou eficácia inferior a 20%, índice muito aquém das expectativas.
Publicado na revista "Nature Microbiology", o estudo que propõe o novo método de produção aposta que, uma vez identificados os padrões, seria possível prever as futuras mutações do influenza. O virologista Yoshihiro Kawaoka, líder da pesquisa, analisou o h1n1 - uma nova versão do mesmo vírus que gerou a gripe espanhola em 1918 e a gripe russa em 1977 - e o h3n2, que surgiu na gripe de Hong Kong, em 1968, e vem passando por mutações desde então.
- Ninguém poderia ter certeza, ano passado, de que a cepa que mais circularia em 2016 seria o h1n1. Poderia ser outra, mas que bom que não foi - destaca. - Vírus como o h2n2 já causaram pandemias, mas ninguém sabe por onde ele anda hoje. Também há o h5n1, muito letal e para o qual já existe uma vacina, que só não é usada porque ele não está circulando. Pode sempre haver surpresas, por isso é essencial a cultura da vacinação.
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, a Olimpíada no Rio não deve ajudar a espalhar o h1n1.
- Como este ano a temporada de gripe no Brasil começou muito antes do previsto, em janeiro, devemos terminar antes também, não pegando os Jogos Olímpicos. Isso diminui o risco - diz.
Fonte: O Globo