26 de agosto de 2016
Cidade da Baixada é escolhida pra ser a primeira no Brasil a testar larvicida em grandes superfícies, RJ
O aposentado Carlos Antônio Petris, de 61 anos, ainda lembra as dores da chikungunya que teve esse ano. Ele mora em Nova Iguaçu, na Prata, considerado o bairro com maior incidência de criadouros do mosquito Aedes aegypti, junto com o Ambaí, de acordo com o último Levantamento de Índice Rápido (Lira), feito em julho, pela prefeitura. A partir de novembro, a Prata e outros cinco bairros participam do teste de um novo larvicida. A cidade foi escolhida pela Secretaria estadual de Saúde para ser a primeira no Brasil a experimentar o novo produto, que combate as larvas do inseto.
Carlos Antônio é vizinho de uma casa vazia na Estrada Plínio Casado. O imóvel está cheio de lixo e, segundo ele, há criadouros do mosquito:
— Esse terreno é muito antigo e não foi aterrado. Quando chove, fica empoçado. Aqui tem muito mosquito.
Segundo a Secretaria de Saúde de Nova Iguaçu, o larvicida Mousticide RH já foi utilizado em alguns países, entre eles a Malásia, onde os casos de dengue foram reduzidos em 54,7%. Indonésia, Singapura, Filipinas e Gana também já utilizaram o produto. A previsão é de que os testes em solo iguaçuano durem aproximadamente três meses.
Durante a fase de experiência, será pulverizado o Bacillus thuringiensis israelensis, já usado no controle do mosquito, associado ao TMOF, produto usado em outros continentes. A aplicação será em áreas com risco de transmissão das doenças pelo Aedes aegypti. A secretaria informou que o larvicida está em fase de liberação pela Anvisa e a aplicação será monitorada pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Antropozoonoses da Secretaria Estadual de Saúde. A Anvisa esclareceu que, se o produto “for à base de BTI (bacillus thuringiensis israelensis), em princípio não haverá dificuldades para registro, já que temos vários produtos registrados com esse ativo’’.
Expectativa é eliminar 50% das larvas
O detalhe que diferencia o larvicida “Mousticide RH” dos demais é que ele atinge grandes superfícies, sendo sua eficácia maior em locais de grande concentração, segundo a Secretaria municipal de Saúde. A expectativa é eliminar pelo menos 50% das larvas do mosquito nas regiões que participam do teste.
— A escolha dos bairros foi feita com base no número de criadouros, como terrenos baldios, depósitos fechados, ferros-velhos e imóveis particulares fechados, mas não necessariamente são os locais com maior número de casos das doenças — explicou o secretário de Saúde Emerson Trindade.
As larvas morrem entre uma semana e dez dias. O larvicida fica até um mês no ambiente.
Vizinha de alguns possíveis focos no bairro da Prata, a dona de casa Joseni Roberta Sousa, de 38 anos, aprovou a iniciativa:
— Eu tive zika. Minha mãe e meu padrasto tiveram chikungunya. Muitos vizinhos meus também tiveram a doença. Nessa área existem muitos criadouros e eu temo pela minha filha de 7 anos. Sempre passo repelente nela.
Testes:
Serão feitos na Prata, Moquetá, Aeroclube, Centro, Chacrinha e Jardim Tropical.
Casos da dengue na cidade:
Entre janeiro e agosto deste ano foram notificados 2.528 casos de dengue. Desses, só 70 deram positivo.
Escolha da cidade:
Segundo o secretário de Saúde, Nova Iguaçu foi escolhida devido à estrutura de combate ao mosquito, com 900 agentes, técnicos especializados, equipamentos adequados e campanhas educativas.
Iniciativas no combate:
A Secretaria de Saúde de Nova Iguaçu informou que em 2015 os agentes da Vigilância Ambiental em Saúde realizaram mais de 1,5 milhão de vistorias e foram adquiridos cinco carros fumacê. Em 2016, entre janeiro e julho, já foram vistoriados 863.934 e recolhidos cerca de 20 mil. Desde o final do mês de fevereiro, começaram as vistoris em imóveis fechados ou abandonados. Para denúncias sobre criadouros ou solicitar a visita de agentes, o número 2668-2300. A Vigilância Ambiental em Saúde fica na Avenida Governador Amaral Peixoto 950, no Centro de Nova Iguaçu. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
A Anvisa informou que, se o larvicida for à base de BTI (Bacillus thuringiensis israelensis), em princípio não haverá dificuldades para registro, já que há vários produtos registrados com esse ativo no país. Esclareceu ainda que o registro é necessário para comercialização do produto. Só se dispensa de registro em casos especiais, como descrito no Art. 7º do Decreto 8077/13:“§ 4º
A Anvisa poderá dispensar de registro os inseticidas, imunobiológicos, medicamentos e outros insumos estratégicos quando adquiridos por intermédio de organismos multilaterais internacionais, para uso em programas de saúde pública pelo Ministério da Saúde e suas entidades vinculadas.”
Fonte: Extra Online