15 de junho de 2015
Pesquisa: cobre pode ser usado na luta contra dengue e chikungunya
Comumente associado à fabricação de utensílios, moedas e fiação elétrica, o cobre pode ser também um importante aliado na luta contra a dengue e a chikungunya. Pelo menos é nisso que trabalham pesquisadores da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Para saber mais sobre o estudo que está sendo desenvolvido, o Rio Com Saúde entrevistou o professor da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia (FACET) da UFGD e coordenador do estudo, Eduardo José de Arruda. Confira!
Rio Com Saúde: De que forma o cobre age contra as larvas do Aedes aegypti?
Eduardo José de Arruda: Os danos produzidos são, principalmente, danos físicos no sistema digestório, aditivamente podem ocorrer danos enzimáticos e/ou metabólicos. Este fato ajuda a reduzir a resistência dos insetos aos inseticidas. Outro fato importante é a atividade tóxica que continua a ocorrer enquanto o sistema metabólico do inseto estiver ativo. Neste caso, pode-se dizer que o inseto produz as espécies que irão matá-lo. As substâncias testadas e experimentadas são inúmeras – neste período de quase oito anos foram avaliadas mais de 25 substâncias e respectivos compostos metálicos –, mas todas possuem atividade bactericida e fungicida que poderiam ser utilizadas em aplicações biomédicas.
RCS: Que aplicações práticas podem ser possíveis a partir do trabalho realizado?
Eduardo José de Arruda: A pesquisa tem por objetivo a produção de novos inseticidas que sejam multifuncionais e atuem de forma abrangente para combater o Aedes aegypti e outros insetos vetores e pragas. A síntese de compostos de coordenação pode permitir a produção de complexos metálicos e criação de um novo tipo de inseticida que sejam seguros para aplicações no controle convencional na forma de líquidos, sólidos, géis, nano e microcápsulas e até incorporados em artefatos de jardim, cerâmicos, pisos e tijolos para liberação controlada dos compostos metálicos para o controle populacional de insetos vetores.
RCS: Como ele está sendo realizado? Em que estágio está atualmente?
Eduardo José de Arruda: Os estudos estão sendo realizados de forma cooperativa entre diferentes instituições brasileiras e portuguesas há quase oito anos. Há vários pesquisadores envolvidos em diferentes etapas do trabalho. Alguns produtos e ativos já foram patenteados, outros tiveram as patentes solicitadas e há trabalhos que estão sendo publicados. Alguns compostos podem ser rapidamente produzidos em escala, caso seja permitida a utilização pelos órgãos de controle sanitário e ambiental.
Mas a pesquisa não tem fim e pode levar a vários desdobramentos. No cenário de insetos com resistência a inseticidas, por exemplo, ganhamos tempo produzindo inseticidas multifuncionais, para que novos possam ser pesquisados para serem mais eficientes e seguros. A resistência é sempre uma preocupação nestes estudos, assim como os impactos ambientais que devem sempre ser minimizados ou inexistir.
RCS: Em sua opinião, conhecimento acadêmico e ações práticas de combate à dengue podem interagir?
Eduardo José de Arruda: A dengue deve ser percebida como um sério problema de saúde pública e não como doença sazonal que ocorre nos verões e períodos chuvosos. O controle populacional do vetor é a chave do controle epidemiológico e deve envolver a participação de todos os atores sociais. Governo, academia, trabalhador, dona de casa e até crianças devem ter a consciência de que podem e precisam se engajar no controle do vetor.