06 de maio de 2016
Bactéria Wolbachia reduz transmissão de zika pelo Aedes

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) comprovaram que a bactéria Wolbachia, quando presente no mosquito Aedes aegypti, é capaz de reduzir a transmissão do vírus zika. O projeto que estuda o uso da bactéria Wolbachia como uma alternativa natural, segura e autossustentável para o controle de dengue, chikungunya e zika conta com a participação de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas) e foi publicado na revista científica Cell Host & Microbe.
O estudo usou quatro grupos de mosquitos Aedes aegypti: duas gaiolas continham mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, criados em laboratório pela equipe do projeto, e duas gaiolas com insetos sem a bactéria, coleados no Rio de Janeiro. Todos eles foram alimentados com sangue humano contendo duas linhagens do vírus zika circulantes no Brasil: metade das gaiolas recebeu sangue com uma cepa isolada em São Paulo, enquanto a outra, com cepa isolada em Pernambuco.
Os cientistas acompanharam os mosquitos ao longo do tempo. Depois de 14 dias do contato com o vírus, os especialistas coletaram amostras de saliva de 10 mosquitos com Wolbachia e de 10 mosquitos sem Wolbachia. O objetivo era infectar 160 Aedes e analisar se eles seriam infectados pelo vírus presente nas salivas. O resultado foi animador: nenhum dos 80 mosquitos que recebeu saliva de Aedes com Wolbachia se infectou com o vírus zika. Por outro lado, 85% dos mosquitos que receberam saliva de Aedes sem Wolbachia ficaram altamente infectados.
Por mais que a saliva dos Aedes aegypti com Wolbachia apresentasse partículas virais de zika, em nenhum caso a saliva foi capaz de infectar outros mosquitos. Esses dados são similares ao efeito anteriormente observado sobre o potencial de transmissão do vírus dengue por Aedes aegypti com Wolbachia. Isso, segundo os pesquisadores, mostra que o uso de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia também tem potencial para ser utilizado para controle da transmissão do vírus zika.
Para verificar se o vírus zika conseguiria se disseminar pelos tecidos dos mosquitos, amostras de abdômen e cabeça/tórax foram analisadas por meio da técnica de RT-PCR. Para isso, foram analisados quatro grupos de 20 insetos com e sem Wolbachia, em dois momentos. Sete dias após a ingestão do sangue infectado com a cepa de Pernambuco, os especialistas constataram que no grupo de insetos com a bactéria, em relação ao de mosquitos sem a bactéria, houve uma redução de 35% na replicação do vírus zika no abdômen e de 100% na cabeça/tórax. Catorze dias após a infecção inicial, as reduções foram de 65% e 90%, respectivamente. No grupo que recebeu sangue infectado com a cepa de São Paulo, após sete dias, as reduções atingiram os índices de 67% e 95%, no abdômen e na cabeça/tórax, e 68% e 74%, nos mesmos tecidos, após catorze dias.
Os pesquisadores coletaram, ainda, amostras de saliva de 20 Aedes aegypti com Wolbachia e de 20 Aedes aegypti sem Wolbachia que receberam sangue infectado com a cepa isolada de Pernambuco. Esta coleta aconteceu 14 dias após a ingestão do vírus, período em que, segundo a literatura, o patógeno já teria se espalhado completamente pelo organismo do inseto e chegado à glândula salivar. O objetivo era demonstrar o percentual de vírus que conseguiria chegar até este estágio, momento em que o Aedes se torna capaz de transmitir o vírus. Aqui, mais um resultado animador: em 55% dos mosquitos com Wolbachia não havia positividade para o vírus zika.